sábado, 21 de setembro de 2019

A mansão da família Silva



Naquela região da Vila de Extremoz, se encontra um antigo casarão que já foi palco de vários massacres de escravos que fugiam dos senhores logo quando a vila foi criada, eles permaneciam na parte inferior da casa sendo massacrados noite após noite, até serem mortos, movidos pela sede de vingança, o ódio foi tomado naquele ambiente até que objetos na casa são derrubados e afastados, portas são trancadas, gritos e sussurros são ouvidos durante a madrugada, passos trotando na madeira ainda fúnebre e correntes se arrastando ouve-se durante uma pernoite naquele lugar. A mansão antiga possui uma grande cozinha, uma sala, uma pequena biblioteca e vários quartos, tanto na parte de baixo quanto em cima. A casa é mantida por caseiros, que a todo mês é mudado, por não suportar permanecer naquele ambiente pesado.
Ao passar uma noite naqueles aposentos se ouvem alguns sussurros e passos, mas nada se encontram nem na parte inferior e nem superior, a mansão é mantida a noite pela luz de lampiões que chegam a apagar em alguns momentos, mas durante a madrugada, uma canção fúnebre ao som arrepiante de uma brisa suave é capaz de estilhaçar qualquer alma, por mais pura que seja. No depoimento de alguns caseiros que residiram e não vivem mais no local, conta-se pela população, que aquele lugar é amaldiçoado, sombras dos escravos são vistos perpassar quando os olhos não são cuidadosos, é nesse momento que se escuta estalar nos móveis, lampiões se apagam vultos de mulheres negras com vestes brancas se percebem entrar em alguns quartos.
As vezes parece que dentro da casa não se vê as horas, as janelas antigas, calejadas com o tempo são de amedrontar o espírito, as portas antigas ainda trancadas tanto por dentro, quanto por fora não permite que a luz entre naquele lugar maldito, que foi assolado pelo ódio dos que foram maltratados, as paredes ainda sustentam a história e o convívio dos antigos moradores, a sacada em frente a mansão, tantos momentos usados pela Sinhá, hoje local para sussurros de almas penadas chamando os bêbados em noites de lua cheia, não se chega nem perto, é o que os mais velhos dizem, aquele local foi esquecido pela humanidade.
Os cômodos da casa ainda possuem seus antigos formatos, as paredes brancas e lisas, o chão azulejado, algumas molduras de quadros com antigas pinturas retratam os tempos de glória, quando ainda havia paz, mesas e cadeiras coloniais ainda empoeiradas, estão envoltos a um ar sombrio que reflete no momento presente em que se entra no recinto, no antigo escritório, a velha escrivaninha ainda sustentada pelos papéis de cartas e outros documentos ainda presentes, alguns livros se encontram em alguma estante da parede, parecem livros de economia, mas um livro se encontra perdido ali, sim, um livro com capa negra e bordas prateadas, porém fechadas com um cadeado prateado, este livro especificamente de capa dura e páginas amareladas não possuem nenhum nome marcado nele.

Na primeira Página deste livro, está escrito:
Vila De Extremoz, 1870

Este é um grimório que relata tudo que está descrito aqui, nada foi em vão, em tudo há um proposito dentro de nossa ordem, meus confrades e eu reunimos alguns trabalhos feitos pelas mentes mais brilhantes a qual nenhum ser comum é capaz de suportar. A sede pelo poder nos trouxe consequências catastróficas, uma factalidade para minha família, as cousas fugiram do controle e que “eles” tomaram controle da situação, sim, esses malditos demônios crioulos. Muitos dos meus negros estavam aqui a anos, famílias inteiras, trabalhavam na minha plantação e nesta residência, alguns pensavam em fugir, sem sucesso,  infelizmente mal chegavam na mata, eram pegos e levados para a parte inferior desta mansão, lá partíamos do princípio de corrigi-los e se não eram corrigidos, usávamos nos rituais, sacrificamos alguns desses crioulos, mas tudo sem o devido sucesso, infelizmente, para nosso infortúnio, algo tomou controle sobre essa residência, a paz que um dia houvera se esvaía como as horas, a cousa carcomia os gritos com uma fome incessante, se alimentava do nosso medo, os objetos  eram arremessadas contra nossos corpos, devido aos fatos recorrentes, minha esposa, Rosa, se enforcou em nosso quarto, nossos filhos foram levados antes para a capital norte-rio-grandense, ignorantes pelo ocorrido nada souberam, a única informação que tiveram da mãe foi que ele morreu de uma doença repentina. Minha vida quase foi tomada por essas forças, ainda vejo as sombras e o ar congelante que me perseguem, ainda sinto os olhares raivosos desses malditos, deixo aqui este livro e as demais páginas descritas nele como prova do que ocorreu e alguns dos rituais. Existe uma outra cópia deste manuscrito, e umas variedades a mais de cousas irão nos amedrontar pelo resto de nossa ínfima existência. Deixo aqui então, meus lamentos e toda minha família.
Orlando Silva

Obs.: Esta é apenas uma ficção, criado para uma adaptação de RPG em Daemon Trevas.